degustar o sabor macio
suaves roucos miados
denúncia da volúpia
em carícias lentas e meigas
a mão que repousa no rosto
levemente
suavemente
orgia no braço que num abraço prende o corpo
gesto firme e suave
abrasiva entrega
sem espaço nem tempo
cósmico incenso
do aroma de canela e café
Edite Gil
(Registado no IGAC)
Se eu morrer antes de ti
guarda o carinho que te tenho.
Meus sonhos estreitos
não troques por passos às avessas.
Perco-me no meu cansaço
onde todas as horas
cruzo palavras soterradas.
Nas noites infinitamente compridas
soletro verbos generosos.
Se eu morrer antes de ti
guarda o carinho que te tenho.
Edite Gil
(Registado no IGAC)
não quero gestos grotescos
nem enxovias pujantes de viço, animalescos!
que querem de mim?
porque me querem endoidar
entre aromas de Maio florido
brisas de sonho
em que me deixo embalar…
Onde querem que aporte
quando aromas, brisas
almíscares, tons
e sons melodiosos
unissonamente rumam
harmoniosamente confluem
e divergem
a um Norte.
Edite Gil
(Registado no IGAC)
Entrei em vaga de tempo
na ervanária do sentimento.
Harmonia vampirizada!
Progressivo empobrecimento
debilitário rumo à mediocridade.
Esqueletos sem ritmo.
Porque não estimular a sensibilidade,
transformar o ressentimento incrustado
em amor e vida?
Vida borbulhante de crer no semelhante.
Quero um Norte de ventos únicos
nem uivantes, nem desoladores…
Mendigo uma lembrança
enraizada num encontro afectivo com a vida.
Não tenho memória; sem ela não posso pensar!
Fidelizo a condição do verbo
ou altero a minha condição “errana”?
Edite Gil
(Registado no IGAC)
chora a blusa
que meu peito já não pode!
do pão emana luz
que não sei para onde vai!
um cruel raio não deixa minhas mãos
ao rumor, rumarem…
…
quero aprender a educar as flores!...
Edite Gil
(Registado no IGAC)
Perder-me
na celebração
com o propósito boreal
como se essa aurora
não terminasse…
Sou ave de Outono
que recusa as escamas,
dos peixes e dos répteis,
e recuso-me a não ser mais
verso por verso perverso que queria escrever!...
Posso guardar a dor
no nó da gravata encarnada,
daquela que eu não uso?
Na ânsia da fragrância
olho minha imagem no espelho do silêncio …
Edite Gil
(Registado no IGAC)
E se um dia
a noite me enxovalhar…
Vida moinho
entre fumos esfumos e copos…
E fumos e sonoras gargalhadas
e o vómito de angústia de amigos
de sobresselentes e toscas ideias
onde se vasculha
a profundeza embriagada do inconsciente…
Onde ajuramento amigos
de ouvidos ébrios de espuma…
Ajuramentados
repartem pedaços de misérias
ébrios da inexistência
pela partilha do desamor
pela sobriedade inconstante
que os une
pela demência da exactidão da carência…
Os poetas
são loucos noctívagos…
Edite Gil
(Registado no IGAC)
Que fantasmas guardamos?
De que fantasmas nos escondemos?
Fustigados
honrosos convívios…
Amedrontados
convivas de investidura…
Fatigar o espírito ou servir uma vida desregrada?
Felicidade astuta ou, do mais astuto?
Olvido o claustro,
fustiga a inquietação,
ecoa o oceano na lápide do peito…
Nada mais vale que um suspiro?
…
Há que vestir a nudez do amor!
Edite Gil
(Registado no IGAC)
Esqueci-me de mim
imersa em imensas vagabundagens mentais…
Hipnotizei-me
pelo pasmo do que desconheço…
Entrego-me à legião de suaves murmúrios
ao exército de suspiradores…
Cândida, estendo asas, tento voar…
Incompreensível estranheza de sorrisos esboçados!
Que fascínio pode ter a vida?…
Prendem-me na escuridão, tentam subjugar-me!
Quem me acorrenta?
Prisioneira neste nefasto jardim
sobre vivo.
Omito as vírgulas…
Sempre que me liberto de um cardo
uma erva daninha atravessa meus muros…
Edite Gil
(Registado no IGAC)
escavo o arame calado de mim
firo
mágoa trémula da ausência
sentinela condolente
neste porte fraco
hostilmente poisada
olhos despintados no sal da dor torta
fixam-se no infinito onde a lua cresce
impulso espatifado na austeridade
na intransigência
desaperto o corpo que torneia a escuridão
inspiro a noite
lábios andróginos que se beijam e confundem
completando o ser
Edite Gil
(Registado no IGAC)
(o poema que se lê nos dois sentidos)
impúdico navegante
amo por amar
ao som da laranja brava
tempero o olhar
caminho para dentro de mim
nada encontro
o oco bafiento do vazio
os estragos são maiores
desesperadora
transcenderei minhas enfermidades de alma?
a espora da espera
em mar revolto pela ausência
Edite Gil
(Registado no IGAC)
Sentir é um obstáculo!
Ser margem desesperada e
defecar psicologia caseira…
Não entendo o lado interno das coisas
desapego-me do hábito de pensar
do vício do verbo…
Ignaro ser!
Busco uns olhos,
passaporte para outro mundo…
Ignoro o complexo da pureza no fulgor do tempo.
Alma!...
do cubo ou da pirâmide?
Impropriamente extingo a ave que habita em mim.
Desapego-me da consciência
coerência subtil do inconcreto
Renasço num tempo de vontade única!
Edite Gil
(Registado no IGAC)
Qual é o momento certo?
Qual é o maior tesouro?
As árvores sibilam “paciência”
Elas sabem
Sabem qual é o momento de reverdecer
o momento de florescer
o momento de frutificar
o momento de libertar as folhas
de ostentar a nudez
de crescer rumo ao alto…
A paciência…
o silêncio…
a espera…
Pacientemente
em silêncio
a ostra
transforma
o grão de areia
numa pérola!
Edite Gil
(Registado no IGAC)
Que seja eu em ti
até que não haja “tu”
Que sejas tu em mim
até que não haja “eu”
Que sejamos nós
até sermos reduzidos
a só um.
Edite Gil
(Registado no IGAC)
Modelador de olhares
criador de esperanças…
Que a verdade seja a luz
atravesse densas nuvens
beije águas desassossegadas…
Alimento em todos os sentidos…
Almejar harmonia impar
a paz interior!
ansiar medida de margens elásticas…
Rasgar,
sedutoramente,
com garras afiadas,
nun tapete ruborizado…
Paixão e virtude
integrem corpo e alma.
Alquimia da compreensão.
Edite Gil
(Registado no IGAC)
Se eu pudesse
a cada lágrima vertida
procurar teu peito…
permitir tua voz
mimosear meu sentir
afagar e beijar meu coração…
Se eu pudesse
permitir-me alcançar
desvendar teus segredos
como ninguém os desvendara…
Se eu pudesse
humildemente
expor minhas dúvidas…
medir o universo
opinar
sobre a grande questão
a busca do ser…
Se eu pudesse
pertencer
a um sonho de sereias…
ou, Dríade, em bosque denso
buscando fulgor cintilante
exporia meu peito
sem recear atentar algum… melindre…
audaciosa
ostentaria meu coração!
Edite Gil
(Registado no IGAC)
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